quinta-feira, 23 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

domingo, 5 de julho de 2009

O Griot como comunicador

por Elaine Perdigão*

Relembrar, atualizar a notícia que vem dos Centros, comentar sobre os burburinhos da vizinhança. Estas parecem ser algumas das muitas qualidades atestadas pelo contador, conservando as histórias reais ou imaginárias, atuando como mensageiro, transportando para os versos as agruras cotidianas.

Como demonstrara Arthur Ramos (1935), os cantadores possuem a função de transmitir de geração a geração, os ensinamentos, as crenças, as tradições, as genealogias, tomando de empréstimo da vida, todo o repertório.

Este “homem arquivo” como afirmara Ramos reelabora sob métricas exigentes, as versões oficiais da história para o mundo de infinitas possibilidades da linguagem. Apegando-se à palavra, esse narrador assemelha-se aos Akpalôs africanos, cujo papel seria o de vagar pelo mundo afora, “recitando seus alôs ou contos” (Ramos, 1935: 161).

Neste sentido, Arthur Ramos confirma a origem africana dos nossos contadores brasileiros, herança de uma tradição oral africana a exemplo dos griots, cujo dever é o de exercer o dom da palavra como conselheiro dos Reis e príncipes por possuir a maneira adequada de dizer as coisas.

Figura importante, os griots transmitem esta qualidade por descendência, preparando-se por anos, aprendendo a administrar a memória, primando pela oralidade, reverenciando a palavra com sacralidade.

Hampaté Bâ nos esclarece a respeito do papel dos griots nas sociedades africanas pautadas na tradição oral de comunicação em que esses personagens atuam como verdadeiros “animadores públicos”, responsáveis também por recreações populares.

Espécies de trovadores e menestréis percorrem as comunidades, animando pela música, pela poesia e pelos contos. São distinguidos em três categorias:


a) os griots músicos;
b) os griots embaixadores, responsáveis pelo apaziguamento entre famílias no caso de tensões;
c) os griots genealogistas, atuando como verdadeiros historiadores.

No mais, o griot se insere no quadro social a que pertence, uma vez que onde predominam as relações pautadas em específicos modos de comunicação, pleiteia o papel de mediador, articulando pela palavra notícia, conhecimento, divertimento à coletividade.

Proporcionando o diálogo entre os indivíduos, este agente reestabelce os muitos nós da rede comunicativa. Por sua vez, igualmente persiste como veículo de informação, transmitindo saberes, informando.

*Elaine Perdigão é mestranda do curso de Pós-Graduação de Antropologia da UFF e desenvolve pesquisas sobre repentistas, cordelistas e trovadores na Feira de São Cristovão no Rio de Janeiro

Referências Bibliográficas:

HAMPATÉ BÂ, A. “A Tradição Viva” in História Geral da África (org) J. Ki-Zerbo
RAMOS, Arthur. O Folk-Lore Negro do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1935.